Tempo em Setubal

segunda-feira, 14 de junho de 2010



Os namoros na net

Chamando nós namoro a tanta coisa, parece no entanto pacífico dizer que se trata de uma fase de descoberta do Outro, e de um tipo de relação com muitas e especificas sensações e emoções associadas. Para lá da atracção que inicia o contacto, tem-se a expectativa de que esse contacto dure o suficiente para se averiguar da natureza do que se sente.
Nem as avós mais conservadoras defendem já distâncias e casulos, missivas longas em lugar de encontros, ou namoros supervisionados por dignas tias armadas em pau-de-cabeleira. No tempo delas, os namoros desenrolavam-se por carta. Começavam e acabavam sem nenhum contacto físico e as frases eloquentes, as imagens esforçadamente construídas e os pequenos sinais contidos na cor ou no odor do papel, na lágrima esborratando duas sílabas, falavam por si. Depois, o hábito epistolar caiu em desuso. Dizem que foi por causa do telefone.
Contra tudo o que se podia esperar, incluindo a opinião das avós, o revivalismo instalado determina que muito dos actuais namoros se desenvolvam por escrito. Com pequenas reformulações, é certo. A escrita é agora por computador e as mensagens enviam-se e recebem-se em tempo real ou interactivamente via net. Todos os dias, de preferência todas as noites, muitas pessoas sentam-se em frente ao computador à procura da alma gémea. Pegam na conversa com aquele, ou aquela, que lhes parece mais provável e, email para cá, email para lá, passam ao Messenger e chegam ao telefonema. Nalguns casos, se tiverem câmaras instaladas, inicia-se o videonamoro ou, pelo menos, trocam-se fotografias retocadas.
Se tudo parecer nos conformes, um dia marcam um encontro e conhecem-se pessoalmente. Depois, logo se vê. Mas não deixa de ser curioso verificar que, numa época de milhares de locais de lazer, de bares, discotecas e pontos de encontro em que as pessoas facilmente se tocam e se vêem, seja por computador que as pessoas conversem.
Claro que os namoros virtuais têm vantagens e inconvenientes. Para quem entra no jogo, é confortante saber que pode desistir a qualquer momento, fazer de conta que é apenas uma brincadeira, aproveitar o que faz bem ao ego e deitar fora o que não se coaduna com as suas perspectivas.
Ainda assim, há sempre o dia do confronto, o dia em que de facto se conhece o outro que agrada ou não agrada. E, acreditem, é aí que o namoro começa, porque nestas coisas o virtual é-o, de facto, até passar a ser real.


Maneta Alhinho








3 comentários:

Anónimo disse...

Um excelente texto deste consagrado jornalista e escritor. Parabéns.

Anónimo disse...

Sem dúvida um bom texto, muito actual e descrito com muita categoria e elevado grau jornalistico. Sou leitor deste homem já a alguns anos. Uma mais valia na escrita em Portugal.
José de Melo

Anónimo disse...

Uma crónica actualizadissima e muto bem estruturada. Parabéns companheiro.
Aquele abraço Maneta Alhinho.
Que é feito de ti?

Rui Mendes - actor (para não haver confusões)

WWW.STEPBYSTEP-RICKYNET.BLOGSPOT.COM

WWW.STEPBYSTEP-RICKYNET.BLOGSPOT.COM
VISITE-NOS!!
Powered By Blogger