Dois irmãos estavam a jogar futebol no largo da igreja, quando o João, o mais novo, disse ao Carlos:
- Meu querido irmão, amo-te muito e não quero separar-me nunca de ti!
Carlos, sem dar importância ao que João tinha dito, perguntou-lhe?
- Mas que conversa é essa de amar, pá? Cala mas é a boca e continua a jogar…
Os dois irmãos continuaram a jogar futebol a tarde inteira.
À noite, José Travanca, o pai dos miúdos, chegou do escritório exausto e muito mal disposto, pois não tinha conseguido fechar um bom negócio. Olhou para o seu filho João e este com um sorriso nos lábios, disse:
- Olá pai! Amo-te muito e não quero separar-me nunca de ti!
José Travanca, no auge do seu mau humor, respondeu-lhe:
- João, estou cansado e nervoso. Fazes o favor de não me vires com parvoíces!
João ficou magoado com as palavras ásperas do pai e foi chorar para um canto do seu quarto.
Helena, a mãe dos miúdos, sentiu a falta do filho e foi procurá-lo. Encontrou-o no cantinho do seu quarto, com os olhos pingando lágrimas e a soluçar.
Admirada, começou a secar as lágrimas ao filho, ao mesmo tempo que lhe perguntava:
- O que foi João? Porque estás a chorar?
João olhou a mãe com uma carinha triste e disse-lhe:
- Mãe amo-te muito e não quero separar-me nunca de ti!
Helena sorriu para o filho e afirmou:
- Meu querido filho, ficaremos sempre juntos! João sorriu, deu um beijo na mãe e foi deitar-se…
No quarto do casal, quando ambos se preparavam para se deitarem, Helena comenta com José Travanca.
- Não achaste o João muito estranho hoje?
José Travanca, stressado pelo trabalho, respondeu-lhe:
- Esse miúdo está a querer chamar a atenção…Deita-te e dorme!
Finalmente todos se deitaram e adormeceram sossegados.
Às duas da manhã, João levantou-se, foi ao quarto do irmão Carlos e ficou a vê-lo dormir. Carlos incomodado com a luz do corredor, acordou e gritou: - Ó João estás doido?! Apaga já a luz e deixa-me dormir!
Em silêncio, João obedeceu ao irmão. Apagou a luz e dirigiu-se ao quarto dos pais. Quando lá chegou, acendeu a luz e ficou a ver os pais a dormir. José Travanca acordou e perguntou ao filho: - O que foi João?
Em silêncio, João apenas acenou negativamente com a cabeça. Nessa altura o pai já stressado volta a perguntar: - Então o que é que queres?
João continuou em silêncio. José Travanca , já muito irritado, gritou dizendo:
- Então vai dormir, miúdo doente!
João apagou a luz, dirigiu-se ao seu quarto e deitou-se.
Na manhã seguinte, todos se encontraram na mesa da cozinha para tomar o pequeno-almoço, excepto o João.
João nem se mexeu. Como não obtinha resposta, José Travanca avançou para a cama do miúdo e puxou-lhe o lençol, destapando-o por completo, quando se apercebeu de que João estava com os olhos fechados e muito pálido.
Assustado, colocou a mão sobre o rosto do filho e notou que ele estava gelado. Desesperado, gritou chamando pela mulher e pelo filho Carlos, para verem o que tinha acontecido ao João…Infelizmente, o pior! O João estava morto. A mãe desesperada abraçou-se ao filho num pranto de choro sufocante. Carlos, desconsolado segurou com força na mão do irmão e também chorava. José Travanca soluçava e ao olhar para o seu querido menino e apercebeu-se de que ele tinha um papelinho dobrado fechado numa das suas mãos.
O Pai agarrou no papel e leu o que o seu filho tinha escrito.
- «Numa destas noites, Deus veio falar comigo durante um sonho. Disse-me que, apesar de eu amar a minha família e de ela também me amar, íamos ter de nos separar. Eu não queria, mas Deus explicou-me que era preciso. Não sei o que vai acontecer, mas estou com muito medo. Mas, gostava de dizer mais uma coisa:
- Carlos, não te envergonhes de amar.
- Mãe és a melhor mãe do Mundo.
- Pai, de tanto trabalhares estás a esquecer-te de viver.
- Eu amo-os aos três!!!»
Quantas e quantas vezes não temos tempo para parar, amar e receber o amor que nos é oferecido? Talvez, quando acordarmos seja tarde demais…
Maneta Alhinho
3 comentários:
Já tinha lido essa história antes. É triste mas abre-nos as pestanas para que não deixemos de ver o que é prioritário na nossa vida.
Esta história é reveladora do humanismo do seu autor.
Carlos Barradas
Linda história que já conhecia como a escrita deste autor. Com um fim triste mas revelador do estilo literário do autor.
Cristina Brito da Cruz
Enviar um comentário